outubro 29, 2009

entras em vento...

... de Outono, molhada por chuva miudinha. Entras assim, vinda de sul, e enrolas-te em cortinas finas que te acolhem e te afagam a pele, com sinais de Outubro. As árvores já em despedida, seminuas, dançam com folhas amarelecidas esperando quedas acrobáticas e suaves em circos de Invernos rigorosos. Assobiam, ao ver-te chegar, entoando sonatas que tu bebes em bailados transparentes, no palco da janela do meu quarto. Exibes-te em peça improvisada, com monólogos de um corpo crescendo em excitação. Falas contigo, usando dedos expressivos que embalam seios expectantes. De quando em vez, espreitam à boca de cena, envergonhados, e sorriem para mim. Tentam-me, endurecidos por dedos finos, que os moldam. Consigo ver o teu sexo iluminado por uma lua que imagino no cenário. Distingo os lábios brilhantes, molhados por movimentos do 1º acto e tento adivinhar histórias que tens para me contar. Imagino actos vindouros e invertendo ordem teatral, entro em cena entrando em ti e tomo conta do teu corpo comandado pelas velhas pancadas de Molière.

outubro 25, 2009

desfolhei...

...em pétalas o teu corpo de bem-me-quer. São vermelhas, da cor da paixão. Cor de sangue que corre depressa, em palpitar acelerado de coração. Enfeitam-te agora enquanto te estendes em prazeres e aguardas o passar do Inverno frio que te arrepia a pele. Ficam-te bem, no teu corpo de seivas a explodir. Assim pousadas nos meus desejos que são teus, escondem com sombras vermelhas os bocados do teu corpo que quero devorar com beijos. Num jogo combinado, troco cada pétala por beijo molhado que te vai alagando aos poucos. Por fora, por dentro, em mares de maré-cheia. Fui mergulhando em ti, afastando pétalas orvalhadas por gotas que chovias excitada. Foram mergulhos ternos, contornando as tuas ondas, surpreendendo-te… foram mergulhos vigorosos, explorando as tuas profundezas fazendo-te ofegante e plena… foram passeios submersos, entre as tuas coxas com sabor a maresia… foram espumas libertadas em bateres sincopados, quando penetrada te vieste em estremecer de corpo que me fez, contigo, encher-te de mar meu espesso e abundante.




outubro 22, 2009

embrulhei-te...

... em camisa minha para te roubar o cheiro. Pedi-te que a sentisses junto a ti, que a sujasses com as saudades que trazias e a enchesses com toques de pele onde me perco. O seu tamanho, grande, aconchegava-te, sobrando tecido em volta dos teus seios que se enchiam de sorrisos endurecidos. As mangas escondiam os dedos que te afagavam os lábios e eu, adivinhando as brincadeiras que fazias, desejava saturá-los de beijos molhados e mornos. Semi-despida, semi-vestida ias impregnando o teu perfume no tecido vermelho, cor de sexo. Em cada quadrícula, colocavas um fragmento de ti: um beijo, um arrepio, uma gota do prazer que escorria dos teus dedos. Sem plano, estavam pintados com a cor do gradeamento onde prendi os bocadinhos que me deixaste trazer. Hoje, quando morro de saudades, serro grades e liberto-te em cheiros que me envolvem, me acariciam, me presenteiam com os prazeres que, semi-despida, semi-vestida, distribuíste por mim em jogos vermelhos, de escondidas.






outubro 18, 2009

círculos ou bolinhas ...

... pingavam em ti, simetricamente em fundo azul, noite. Não sei se era pijama ou roupa interior, sei que de despiste devagar, exibindo-te para mim, jogando com bolinhas brancas desenhadas em pin-pong múltiplo que te percorria o corpo. As bolinhas brincam contigo arrepiando-te, tu brincas com o teu corpo, usando dedos deslizantes pela pele, sempre ansiosa de prazeres. Procuras caminhos que conheces, em explorações prazenteiras e solitárias. Hoje seguia-te, e não sozinha mostravas-me como lá chegar. Tesouro escondido (entre bolinhas), tesouro encontrado. Ali estava ele, despido de pilosidade, de preconceitos, sem disfarces, aberto, brilhando húmido, com a luz nascida nos meus olhos. Iluminava-o de prazer e desejava possui-lo, roubá-lo de ti, ficar para sempre com ele. Saciar desejos das distâncias que nos afastam. Por uma noite, as bolinhas cúmplices que trouxeste junto a pele, ajudaram-me a roubar o teu tesouro. Por uma noite, possuí-o intensamente, demoradamente, saboreando todas as riquezas que tens sempre dentro de ti.



outubro 14, 2009

o chapéu...

... é o prolongamento da tua beleza. Difícil de definir, mesclado, cores suaves, quente, aconchegante… O chapéu em ti! Tu no chapéu… Gosto do mesclado das tuas cores, os teus olhos verde amêndoa a combinarem com o mel dos teus seios, o reflexo do pôr-do-sol no teu cabelo a casarem com os lábios pintados sem batom, que me excitam. Beijo-te e coro com as tuas cores, fico com elas nos meus olhos, e pinto todos os pensamentos com as tintas saborosas dos teus toques subtis, com os toques das tuas mãos que, como o chapéu, me cobrem o corpo com textura suave e natural. Gosto dos teus bicos endurecidos, desenhados em sombras eróticas na parede. Gosto do teu sorriso debaixo de um chapéu, enigmático, transbordante, provocador. Gosto quando o tiras e despida de tudo, me deitas sobre ti, fazendo de mim o chapéu que te cobre por completo, abrigando-te assim debaixo de orgasmos mesclados que nos inundam.





outubro 06, 2009

prendes-me a ti ...

...em teia transparente
de querer
(e não querer)
colo-me em mel suado que escorres
enleio-me nos teus beijos de língua quente
derreto-me no calor envolvente
das noites quentes de verão
estreladas
saboreadas
lentamente prolongadas
por horas curtas, roubadas
aos tempos de solidão.
prendes-me com luvas rendilhadas de cinema
negras (de querer)
dedos lânguidos que provocam
espreitando
tocando
arrepiando
arranhando (por querer)
pele carente, ansiosa por te ter.
tenho-te na seda tecida
do lençol em desalinho
tenho-te aos pedaços
nos tempos que nos separam
nos tempos que se baralham
nos tempos de querer
(e não querer)
quando te tenho nos braços